Outro dia durante uma
fervorosa discussão com um criador que por motivos pessoais resolveu
acabar(atrapalhar, tulmutuar) com uma de nossas confraternizações
que “volta e meia” realizamos desde que nosso grupo de amigos
começou a se reunir a quase 10 anos - era primeira vez que o sujeito
participava - e esta, infelizmente foi a primeira onde os ânimos se
exaltaram - ouvi a celebre colocação do bagrencefalo e borracho
professor TITIca: -“Quem vive de passado é museu!!!”
referindo-se a nossa discussão que tratava de um assunto referente
a um determinado criador, se ele era parceiro duro ou não, nas palavras do meu
combalido opositor um “preá” como nossa gíria peculiar se
refere ao galista mais fraco, perdedor.
Hoje, lendo um artigo
sobre cavalos de corrida(como faço diariamente), o autor do
texto(que se fosse galista seria um craque!!!) falava da importância
do passado na criação e cavalos de corrida, do quanto foi
importante a consolidação de estruturas genéticas que servem como
base para a criação do cavalo de corrida moderno. Mas pergunta o
leitor o que tem haver o cavalo de corrida com o galo de briga? Muita
coisa responderia a quem indagasse, já que como nossos galos o
cavalo é um atleta, um nobre atleta que é selecionado a muitos
anos para determinado fim ou seja correr e nossas aves são selecionadas para
lutar, assim uma comparação, mesmo que mínima, pode sim, ser
estabelecida.
Pois bem, relembrar o
passado, vitorias ou derrotas, erros ou acertos é lembrar de fatos ocorridos e não de possibilidades como as que podem vir a ocorrer no futuro. Fechar os olhos ao
passado do que foi feito de bom ou ruim, por nós mesmos ou pelo
outros, poderá ter influência direta no que virá ou não
acontecer daqui pra frente. Assim presumo que os fatos que ocorreram
podem servir de parâmetro às decisões que iremos tomar mais
adiante, quer seja para não repetir o erro cometido ou mesmo para
copiar o que já deu certo.
Referido criador, que
fora no ano anterior patrão, do professor TITIca(apenas tratador), é
um criador respeitado por toda região, bota brigas boas, em todas as
rodas, bota briga de mil em torneios de primeiro time, enfrenta os
adversário mais duros da roda, bota briga de 100 em rodas mais
fracas. Eu o conheço a pelo menos 12 anos e sempre o tive como um
bom adversário, além de difícil de ser batido, um honesto e leal
oponente, a quem já vi ou soube ter botado briga em pelo menos 5
estados do país, ainda no Paraguay e na Bolívia, sempre mais
ganhando do que perdendo, portanto um nobre galista, que possui seus
defeitos(penso que seus galos poderiam ser mais soltos, briga muito
socados, pesados), mas que esta longe de ser um “preá”.
Esta mágoa do professor
TITIca com este criador se dá pelo fato de desentendimentos de ordem
trabalhista/financeira, ou seja algo de cunho pessoal e em nosso meio
galistico isso existe e muuuuito. Tratasse de uma verdadeira
neoplasia que assola as discussões do galismo. Explico-me, gostar de
Fulano e Ciclano ou odiar Beltrano, não tem nada com o que o mesmo
representa ou apresenta. O que nossos amigos ou inimigos apresentam
na roda tem que ser visto e analisado sem pudores, sem gostos
pessoais, sem puxar ou afastar a brasa do assado de um ou outro, só
assim podemos fazer uma crítica justa desta ou daquela ave que lutou
ou mesmo da criação de determinada cocheira. Reconhecer as virtudes
de um bom galo, ou de bons galos, sejam eles de quem for, é
reconhecer a nobreza de um ser que não tem culpa de as vezes
pertencer a um sujeito arrogante ou sem escrúpulos, odiado muitas
vezes por toda roda, afinal o animal não tem culpa de estar na mão
de quem esta, mas este não é o caso.
Nossas analises devem
ser desprovidas de gostos pessoais, seja o galo um bankivóide ou
malaióide, seja ele branco, preto, amarelo ou cor de rosa e deve
ter o mesmo rigor para o que nasce em nosso terreiro ou em terreiro
alheio, como sempre diz um amigo:”Primeiro se bate, classifica ou
desclassifica, depois vai no caderno e se vê que é o pai e quem é
mãe”.
Este preconceito tanto a
favor quanto contra a determinada linha ou mesmo raça de galo é um
verdadeiro absurdo. Se dentro de uma raça pura como os cavalos
puro sangue ingleses(thoroughbreds) há distinções entre linhagens, ocorrendo o cavalo considerado craque, as vezes até sendo um irmão
materno ou paterno de outro considerado um matungo, imaginem só numa gama
de cruzamentos entre raça e linhas diferentes realizadas ao acaso e em 99.99% das vezes sem critério algum.
Falar que os shamos são
lentos ou falar que os thailandeses são os melhores é mais
completos é como falar que todo jamaicano vai ser um Usain Bolt ou
todo venezuelano será um Hugo Chávez(tendo o primeiro com craque e este ultimo como o pior deles).
O quanto é representativo
percentualmente assistir a alguns vídeos de galos thailandeses no
youtube.com, sendo que a grande maioria dos criadores nunca acessa a
rede? E os galos considerado ruins que não são filmados? Ou todo
galo que eles criam, filmam e postam o vídeo? Que representatividade
percentual tem os grandes studs(cocheira que combate seus galos) nos
maiores torneio do nosso país na postagem de videos brasileiros no
youtube ou qualquer site de vídeos? - eu diria que muito próxima a
zero% -. O que é parâmetro para quem assiste os vídeos? 1 ou 2
minutos de escorvas com buchas e biqueiras?(tem gente que classifica
galo dos outros assim , por vídeo de youtube).
Assim penso que temos
que deixar de ver as coisa do lado pessoal, sem preconceitos, o
criador deve traçar um plano objetivo de como e onde quer chegar,
que ferramenta ele pode usar para alcançar sua meta, para isso ele
não precisa passar por cima de ninguém e muito menos ter que
rebaixar seu oponente usando de artifício anti éticos ou amorais,
alias muito pelo contrario, pois se nosso antagonista tem bons galos
e comumente conseguimos derrota-lo é sinal que os nosso combatente
são superiores ou pelo menos de mesmo nível, e quanto melhores os
galos dele, mais teremos que trabalhar e atualizar-se para não
ficarmos para trás.
Não podemos desdenhar
dos feitos realizados por qualquer criador que tenha sido considerado
um bom criador em sua época. Algo naquelas temporadas vitoriosas ele fez de diferente e/ou melhor do que seus adversários para obter seu
êxito. Se hoje ele não é tão vencedor com o fora outrora, pode ter
acontecido algo que o impede de ter sucesso como antes. Alguns
aprendem tanto com seus erros como com seus acertos, outros já
mediante os primeiros fracassos já jogam toalha e desistem da luta. É comum se notar que alguns studs fazem temporada sublimes e deixam
a desejar nas temporadas seguintes. Perguntei certa vez a um gerente de uma das cocheiras mais respeitadas do Brasil, o que acontecia que
algumas cocheira não repetiam temporadas boas como no anos
anteriores e ele me disse: “- Tudo vai bem quando as coisas estão
bem, quando eta todo mundo satisfeito na cocheira” completou “...se
o ajudante do tratador não esta satisfeito ele já pega um galo de
qualquer jeito na gaiola, se for um beliscador então...” são
detalhes que muitas vezes passam desapercebidos pelos proprietários, muitos destes nem sabem pegar um galo na mão, dirá, ver ser um galo
está bem ou está mal, com algum tipo de problema. A briga de
galos quando é disputada entre animais de mesmo nível, preparados
em condições similares é decidida no detalhe. Um que passe sem ser
notado pode botar um galo a perder ou até mesmo toda um temporada em
risco. Constatasse que é fácil de perder-se pelo caminho e é
dificil de colocar as coisas no trilho novamente.
Todos
temos algo que aprender e todos temos algo a ensinar. Estas pessoas
que pensam ser o o dono da verdade, devem ser deixadas de lado, o tempo se
encarregará de dizer quem é que no futuro vai estar no museu, na
parte nobre de nossa memória e quem estará no guardado naquele
nosso espaço do cérebro onde existe apenas uma vaga lembrança que
custamos a nos recordar. Além de que, quem pode dizer que não vive do passado? afinal a briga só termina quando o juiz da ela por encerrada. Quem pode se gabar do que pode vir a acontecer? Como diz o ditado: " Galo de briga deixa e gente mentiroso."